Uma peça misteriosa: 25 centavos (1994-1995)

O plano real trouxe uma estabilidade que muitos brasileiros sequer tinham chegado a conhecer. O novo meio circulante, tanto metálico como cartáceo, feito em tempo recorde pela Casa da Moeda, reintroduziu as moedas metálicas com valor real. Uma comparação algo tosca dá essa ideia: a moeda mais alta do padrão precedente, a de 100 cruzeiros reais, comprava, no dia 30 de junho de 1994, o equivalente a um quarto de pão francês; a moeda mais alta do novo padrão, a de 1 real, comprava dez pães.

A nova série de moedas chamou a atenção pela sensaboria. Feita às pressas, como eu já disse, se limitava a trazer uma efígie da República no anverso, que ainda dividia espaço com um ramo de louros estilizado combinados com linhas. Um inconveniente notório foi o fato de as taxas em centavos equivalerem às taxas em cruzeiros reais no número e nas dimensões. Ou seja, a moeda de 50 centavos usava o mesmo disco da moeda de 50 cruzeiros reais, embora a peça de 50 cruzeiros não valesse nem 2 centavos de real.

A feiura das peças colocadas em circulação no advento do plano real foi quebrada em 30 de setembro de 1994, quando o BC pôs em circulação a moeda de 25 centavos. Era novidade por vários motivos: a taxa que extrapolava o popular esquema 1-5 de números preferenciais e introduzia uma relação ainda não usada na numária brasileira: o quarto da unidade, quando o habitual era o quinto, que equivaleria à taxa de 20 centavos (como nos anos 40, 50 e 60; nos 70 e nos 80), e o desenho heptagonal na parte interna do rebordo, o que deu todo um charme especial à peça. O design chamava a atenção: as linhas onduladas no campo do reverso, dando uma ideia de movimento. E também no anverso, com a efígie da República estilizada.

Pessoalmente, eu a tenho como uma das moedas mais interessantes, esteticamente falando, sobrepujando inclusive as da segunda família, que considero terem “excesso de informação”.

Mas foi no artigo de Leonardo Rodrigues Tupinambá, As peculiaridades da moeda de 25 centavos da primeira família, que me foi dado a conhecer pelo nosso querido Edil Gomes, que algumas comparações no mínimo curiosas acabam tirando o brilho da inovação da peça de 25 centavos da primeira família.

A primeira informação importante é que, embora tenha ficado associada à primeira família, a peça de 25 centavos deveria ter sido a primeira peça de uma segunda família. Sim, existiu o projeto de uma família graficamente toda similar, como também relata Ariel Carvalho. Embora no desenho que aparece na tela a peça de 25 seja identificada como “aço latonado”, que não deixa saber exatamente se é uma liga ou se já estamos tratando das peças eletrorrevestidas, embora eu ache que seja uma liga. A informação que encontrei a respeito foi inconclusiva; como se trata de um projeto e, como eu sempre digo, a Casa da Moeda e o Banco Central são sempre muito ciosos dos seus projetos, a coisa sempre vem com aquele gosto de aproximação.

O mais interessante do artigo de Tupinambá é que ele mostra que a peça de 25 centavos é, digamos, a junção de várias ideias e designs prévios. Por exemplo, se compararmos o reverso da peça com o reverso dos 5 cruzeiros da série Magalhães, vemos que existe aí uma adaptação de estética, ou um aproveitamento de ideias, ou, pelo menos, uma inspiração.

A comparação mais interessante, porém, é com a peça de 5 colones, da Costa Rica, produzida pela Casa da Moeda do Brasil entre 1983 e 1989. O fundo hachurado do reverso lembra muito os 5 cruzeiros Magalhães, produzidos entre 1980 e 1986 e, claro, o detalhe mais importante, o heptágono na parte interna do rebordo.

A peça de 25 centavos, no seu reverso, tem os algarismos da taxa “vazados”, ou seja, com uma linha mais grossa fazendo os contornos e deixando uma área em baixo relevo na parte interna. Familiar? Pois é o mesmo recurso usado na família Tipos Regionais, feita entre 1989 e 1992. Sim, é o famoso “nada se cria, tudo se copia”. Se bem que, frisando, o conjunto é, na minha modesta opinião, muito criativo.

Temos ainda o anverso, que mostra a efígie da República; Tupinambá, no seu artigo, diz que a efígie aparenta ser, dentro do possível, um reaproveitamento daquela criada para as moedas de 1 cruzado novo e de 200 cruzados novos, comemorativas do Centenário da Proclamação da República, cujo anverso foi gravado por Aldo Cascardo e Kátia Dias. Eu estou mais para uma releitura, por conta da estilização dos traços; estilização que lembra muito o Tiradentes na moeda comemorativa do bicentenário da sua morte.

De qualquer maneira, ficam registradas impressões e parte da história dessa peça que, no seu momento, marcou a numária brasileira.